17.8.17

DESARTICULACIONES . Texto

D E S A R T I C U L A C I O N E S
María Alejandra Gatti
curadoria
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NICHOLAS PETRUS
Texto sobre a obra de Lihuel González para o catálogo da exposição
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Nunca os almoços de família serviram.

Era o mesmo silêncio estúpido do tio sem nome, aquele cheiro de armário nos bafos, o mesmo tio róseo no final da tarde, camisa manchada de gordura de frango, o mesmo domingo do ano passado outra vez. A mesma desculpa do arroz empapado – que nunca estava realmente empapado, a mãe esperando aquele elogio que nunca veio porque todos sabiam que não viria. De novo ela esperava, como no outro ano esperou.


O elogio se viesse um dia, seria até impróprio: parentes calados não babam. Ansiedade pra palitar os dentes, o paladar mais relevante do ano foi o refrigerante, quem espera sempre alcança. A mãe tinha esse dom de fazer cara-de-quem-espera, afinal tinha passado doze meses se preparando, de novo, pra sua melhor cara-de-quem-espera. Almoço servido, gelo com gosto de peixe, o sabor de ontem, as mastigadas de boca aberta: esperar é simples, esperança tem que explicar. A tia na espera do ensaio perfeito para o próximo domingo em família ser como o de hoje. No meio o pirex do amor sanguíneo, enchendo, enchido por todos, o centro da mesa a união fraterna, a vala, o sepulcro: ossos com saliva, vidro santa-maria-amber, o enterro, as rosas plásticas, o frango com laranja.


A salada naquela travessa de sempre, com o fundo encardido de forno, com uma ponta lascada que todos faziam questão de dizer “toma cuidado, a pontinha ta lascada”. Quando a travessa passava pro outro lado da mesa, sempre atrapalhava alguém já com o garfo quase na boca, sempre nesse domingo, igual ao do ano passado. A mãe, sempre a última a começar, pensava só em oferecer mais arroz “pra repetir”, media a comida dos outros fingindo...

LEIA O TEXTO COMPLETO ABAIXO:



Os artistas apresentados são Alan Segal, Lorena Marchetti, Lihuel González, Lorena Fernández e Verónica Gómez, com a participação de escritores brasileiros contemporâneos junto aos cinco artistas argentinos. Nicholas Petrus escreve sobre Lihuel González, Thais Gouveia sobre Verónica Gómez, Fabiana Faleiros sobre Lorena Fernández, Marcelo Carnevale sobre Lorena Marchetti, e Leonardo Araújo escreverá sobre a obra de Alan Segal.

Obras, textos, público, espaço, sons, tempo, cores... Há uma unidade no momento que compreendemos que as obras se diferenciam e completam, são solitárias, mas na solidão não dialogam, são criações de artistas, mas são – finalmente – de todos nós.


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