11.3.07

Centro, Dispersao e Dialetica

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Centro, Periferia. Da Dualidade à Dialética Policentrica da Arte Contemporânea.
Por Nicholas Petrus

O artista sempre esteve morto. Por mais intensa que seja a vida de um artista, todo aquele romantismo boemio é mesmo a verdadeira natureza de alguém que pouco viveu. Os vivos então...

Enquanto vivos os artistas fazem discursos ferozes sobre a verdade da arte, fazem ligações para seus amigos e amigas contando de um sonho pressagioso, aceitam a ressaca como parte do processo criativo, mistificam-se e mistificam, convivem em seus centros de interesse. Se negassem tudo isso, fizessem sempre o oposto de suas estabilidades ou convenções? Mais que tudo, o artista trabalha.

O conceito de centralidade deriva de algumas convenções sociais. Também de constatações, da seletividade daquilo que é relevante numa hierarquia imposta pelas necessidades de sobrevivência ou por necessidades superficiais. A centralidade é o conhecimento, e em seguida o consentimento pelos homens, de que se realizam mais ou mais importantes atividades/fatos/acontecimentos - naturais ou sociais - em determinados fragmentos do espaço e do tempo, diferentemente, ou em detrimento, de outros sitios do planeta. A centralidade se manifesta no local, no espaço regional, no continental..., e pode ser relevante, ou não, para tal ou qual estudo.

Da dualidade, que se estabelece por meio da seletividade daquilo que se mostra relevante para a formação do conceito da centralidade, não se pode atribuir de imediato aspectos qualitativos. O poder da centralização é o mesmo da dispersão.
Se a centralidade envolve o domínio, a dispersão envolve a liberdade. A especialização em oposição à emoção, o contrato e a honra... Tomemos a imparcialidade.

A centralidade está em todas as escalas, inclusive na dispersão, ou na periferia como alguns ainda preferem. Se votamos por uma relação de valor, dada pelo controle dos sistemas de informação, a palavra dispersão emerge para invadir a antiga periferia, termo carregado de questões e imagens antigas. A invasão pela dispersão técnico-científica, mesmo que desigual, permite a instantaneidade e a simultaneidade do conhecimento e refazem-se e rearranjam-se os agentes produtores deste conhecimento.

A centralidade se dispersa no território, numa conurbação conceitual dos desejos totais das segmentadas relações da sociedade. A garantia e a segurança dadas pela centralidade, são exatamente iguais à força oposta que promove, simultaneamente, a sua ruptura.

Até que ponto provincianismos, arraigamentos e tradições podem revelar-se sutilmente na arte contemporânea, substituindo uma frieza/apatia/ assepsia conquistadas pela equiparação e equivalência das relações sociais, determinadas hoje, pela opção mundial da globalização cultural?

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